Esqueça muito daquilo que você já ouviu falar sobre o uso da água doce. Muitas informações divulgadas pela mídia dão uma impressão errônea da situação atual do uso da água, mas isso você irão perceber sozinhos, basta ler nesse texto.
Parecemos estar controlando nosso consumo, mas estamos mesmo? Muitos não entendem, por mais que lavem a louça com menos água, e lavem o carro e calçadas somente com baldes, não parece haver redução na escassez de água doce no mundo. O que está acontecendo? É um efeito do aquecimento global? De modo algum.
Quem consome mais água no Brasil?
- Uso na agropecuária – 80% (sendo 69% na irrigação e 11% na produção animal)
- Uso residencial – 13% (sendo 11% urbano e 2% rural)
- Uso industrial – 7%
O uso na agropecuária é mais de seis vezes maior do que o uso residencial. Se vivêssemos no aperto, reduzindo o consumo residencial de água em 50%, reduziríamos menos de 7% do total de água utilizada no Brasil. Quando consideramos quanta água cada habitante produz por dia, não vale contar só o consumo doméstico, mas também quanta água foi necessária para produzir o alimento consumido pela mesma.
A agricultura consome a maior parte da água captada |
Para quê a irrigação gasta tanto?
Pode parecer irreal, mas o Brasil é um dos países que menos irriga suas lavouras, mesmo sendo o país que mais possui água doce disponível de todo o planeta, com 11,6% do total mundial. O Brasil irriga menos de 6% de sua área plantada, que é de 55 milhões de hectares (obs: 1hectare = 10.000 metros quadrados), o que corresponde a mais de 37 milhões de Estádios do Maracanã. Mesmo assim, a irrigação consome 69% do total no Brasil.
Produzir alimento para os 6,5 bilhões de habitantes do planeta não é fácil, a produção agrícola mundial chega a produzir anualmente 5,5 bilhões de toneladas de alimentos.
Para que isso possa ocorrer, cerca de um quinto dos 1,4 bilhões de hectares plantados é irrigado. Mas não se confunda, devido à maior produtividade dos campos irrigados em relação aos de sequeiro (sem irrigação), a agricultura irrigada produz quase metade da produção mundial de alimentos.
Para se ter noção, o arroz de sequeiro (sem irrigação) produz aproximadamente 2 toneladas por hectare, e o arroz irrigado produz de 8 a 10 toneladas por hectare. Podemos notar que sem a agricultura irrigada, seria impossível a produção de alimentos para toda a população, mesmo que todas as áreas agricultáveis fossem utilizadas.
Como reduzir o consumo de água?
É evidente que a melhor maneira de reduzirmos qualquer gasto é investir no uso racional no setor que mais utiliza o recurso. Por mais que a atividade agrícola irrigada seja altamente tecnificada no Brasil, muito ainda pode ser melhorado. A aplicação excessiva ou desnecessária de água no solo é algo que não recebe a atenção devida.
O investimento em soluções para a redução do consumo de água na agricultura, mantendo-se a produtividade, é um dos pontos principais dessa luta. Além disso, a orientação sobre boas práticas agrícolas é fundamental.
É necessário que as atenções não fiquem presas ao consumo doméstico, que representa uma parcela muito pequena do consumo total, concentrando as atenções ao uso na agropecuária.
Então não adianta nada economizarmos água em casa?
Não é bem assim. Em termos de redução do consumo de água doce, a economia residencial pode não ser tão representativa. Mas devemos lembrar que a agricultura irrigada, diferentemente do uso residencial, não necessita tratamento.
Devemos lembrar que o tratamento de água nas ETAs (Estação de Tratamento de Água) é um processo difícil e muito caro, pesando no orçamento público. A redução de gastos residenciais reduz os gastos públicos, reduzindo os impostos, além de ajudar no orçamento doméstico.
Fonte dos dados: ANA – Agência Nacional de Águas
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